Em meio à aleatoriedade dos riscos e do acaso das chances, há uma maneira de fazer com que nossos objetivos tenham mais chances de ser atingidos, ou pelo menos de adaptá-los para uma realidade mais próxima da nossa: o planejamento de carreira.
E não estou falando, simplesmente, de estabelecer uma meta de médio ou longo prazo e esperar para que as oportunidades apareçam e a meta possa ser alcançada; um bom planejamento de carreira envolve o desenvolvimento de estratégias e métodos, estabelecimento de caminhos a serem seguidos, adaptações constantes a mudanças e acontecimentos, etapas claras e bem dividas… tudo para se alcançar o objetivo principal, ou chegar o mais próximo possível disso.
O planejamento de carreiras serve, portanto, para estabelecer, organizar, otimizar e adaptar os processos necessários para se atingir um objetivo de longo prazo, minimizando, dentro do possível, a interferência dos riscos sobre os resultados.
A princípio, devemos entender que um plano de carreiras não é algo definitivo, que se faz apenas uma vez: devido a constantes mudanças e a uma série de acontecimentos inesperados, assim como as escolhas que fazemos diariamente, o andamento dos planos pode ser afetado, seu objetivo pode mudar e outras portas e oportunidades podem se abrir. Esses fatores podem (e irão) exigir que seu plano seja adaptado com uma certa frequência.
Um bom plano de carreira não se limita a um plano de longo prazo, como os “planos de 10 anos” ou “planos de 5 anos” que já ouvimos por aí. É importante – e por vezes imprescindível – que você tenha um objetivo claro e definido para alcançar, mesmo que são saiba exatamente o que deseja para o futuro.
Sendo assim, para que esses objetivos futuros possam ser atingidos da melhor forma possível, mitigando os riscos e permitindo um maior controle sobre a situação, devemos fragmentá-lo em atividades menores que são necessárias para que o objetivo seja alcançado. O cumprimento dessas atividades também deve ser planejado; seu plano de carreiras será dividido, portanto, em diversos outros planos de curto, médio e longo prazo que deverão ser trabalhados cotidianamente.
Por que é importante ter um plano de carreira?
Se você tem um sonho profissional a ser alcançado, deve pensar cuidadosamente nos tipos de risco que isso envolve. Algumas carreiras dependem mais de habilidades pessoais do que o que chamamos de “sorte” para dar certo: se você quer estudar para se tornar um professor ou um enfermeiro, por exemplo, é praticamente garantido que você consiga manter uma carreira estável, pois são carreiras que apresentam baixo risco. Por outro lado, se deseja se tornar um grande artista, as incertezas são grandes e os riscos são bem maiores: o sucesso dependerá menos das suas habilidades pessoais e mais da aceitação do público. Em geral, uma carreira que apresenta mais riscos também significa um maior retorno financeiro, e é esse “custo-benefício” que devemos dosar ao definir o que desejamos conquistar.
Sendo assim, ainda que escolhamos a opção que apresenta maiores riscos, é importante fazer de tudo para minimizá-los, e é essencial que saibamos o caminho que devemos trilhar e as decisões que devemos tomar para alcançar o objetivo → devemos saber tomar cuidado com algumas escolhas que podem afetar indiretamente o rumo de nossa carreira.
Além disso, criar e estabelecer uma boa carreira é algo que leva tempo; os processos no caminho são longos e, portanto, demorados. Podemos, no entanto, otimizar esses processos quando estamos cientes do que precisamos fazer para alcançar nossa meta, e resolver imprevistos rapidamente através de um “plano B” – o que nos permite adaptar o plano constantemente sem se perder na trajetória e conquistar o objetivo ainda mais rápido, ou, ao menos, perdendo menos tempo.
Há um cuidado muito grande a ser tomado com algumas decisões – alguns riscos podem apresentar consequências inaceitáveis, e por isso devem ser evitados sempre que possível.
Quando devo começar a planejar minha carreira?
O quanto antes! Claro que, antes de fazer um plano, devemos ter uma ideia clara e madura sobre o que vamos alcançar, e apenas depois disso devemos começar. Algumas pessoas já sabem o que querem durante a escola, outras descobrem na faculdade e algumas apenas depois de alguns anos de carreira.
É importante ressaltar que não há limite de tempo! Nunca é tarde para se planejar. No entanto, assim que seu objetivo estiver definido, já é hora de começar a pensar no seu plano de carreira. Universitários e recém-formados costumam estar em um bom momento para começar a pensar nisso.
Como começar?
Alguns requisitos básicos
Lembre-se de que você só deve dar início ao seu plano quando já tiver um objetivo claro definido; se ainda não tem, pense nas suas experiências acadêmicas passadas, sobre o que você tinha mais facilidade e o que mais gostava de estudar. Identifique, então, o que te atrai nesses ramos e procure por algumas opções de carreiras que possam satisfazer os seus gostos, algo com que você se identifica.
Para isso, identifique e leve em conta as suas soft skills – é a parte mais importante para se saber com o que e como deseja trabalhar. Se você não é uma pessoa comunicativa, por exemplo, não faria sentido tentar uma carreira com vendas ou negociações. As suas soft skills são a parte mais forte do seu acervo, e as principais para se investir, uma vez que os recrutadores valorizam muito as habilidades intrínsecas do candidato, já que são únicas e mais difíceis de desenvolver do que as hard skills.
O seu objetivo pode ser algo bem mensurável, por exemplo: quero ser arquiteto, ter 2 filhos, morar em uma cidade agitada, porém em uma casa afastada do centro da cidade. Esse é um exemplo de objetivo direto e mensurável, e, em geral, depende de escolhas e decisões bem diretas.
No entanto, seu objetivo também pode ser ter uma carreira executiva, escalar na hierarquia administrativa, viajar bastante e morar em um bom apartamento. Nesse caso, há mais de uma forma de atingir esses objetivos, e mais riscos em relação à carreira. Nesses casos, os caminhos a serem tomados exigem um raciocínio mais cuidadoso, e algumas escolhas – como a cidade em que você vai morar, por exemplo – podem ser influenciadas pela carreira – como no caso de você ser promovido para trabalhar em uma planta numa cidade distante da atual.
Tendo o objetivo definido, há alguns passos básicos que devem ser seguidos enquanto é dada continuidade ao plano:
Identifique o conhecimento necessário para atuar onde você deseja: conhecimento e habilidades que os recrutadores de diversas empresas possam achar úteis e considerar um bom motivo para te contratar. Quanto maior o seu leque de conhecimentos, mais requisitos você vai satisfazer em mais lugares diferentes, resultando em uma gama de possíveis opções no futuro.
Arrume o seu currículo e seu LinkedIn: o currículo é a porta de entrada para qualquer emprego. Seja quem for que vai te contratar, o seu primeiro contato com essa pessoa provavelmente será através do seu currículo. Ele será a primeira coisa sobre você que será analisada, antes mesmo de você ser considerado como um possível candidato. Por isso, é importante, mantê-lo atualizado e inserir o máximo de informações relevantes sobre você, de forma que vá te diferenciar de um possível concorrente.
No caso do LinkedIn, ele é uma rede social muito útil para aumentar o network com profissionais influentes da sua área e empresas pelas quais você se interessa. Além disso, lá também são publicadas vagas e oportunidades de emprego.
Visite sites como o Glassdoor para se informar sobre as empresas e ficar por dentro das vagas de emprego.
Aumente seu network, não apenas com redes sociais profissionais, mas também procure aprofundar suas relações com amigos e colegas. Quanto mais gente você conhece e quanto melhor a sua relação com elas, mais chance há de alguém pensar em você quando souber de uma boa oportunidade de emprego. Você também pode conhecer alguém que possa te indicar como candidato em uma boa companhia, o que aumenta muito as chances de sucesso no processo seletivo. Aceitar propostas de emprego em empresas ou setores diferentes também permite aumentar o network, mas essa é uma decisão que deve ser cautelosamente pensada.
Tendo tudo isso em andamento, é hora de partir para o plano em si: começaremos identificando, avaliando e mensurando os riscos que esse objetivo apresenta.
Pense, por exemplo, em uma pessoa que deseja seguir a carreira artística e ser nacional ou mundialmente conhecida pelo seu trabalho. Os riscos de investir nessa carreira são muito altos, uma vez que o sucesso depende da aprovação e reconhecimento de uma grande massa de público, e o investimento de tempo e dinheiro pode não ser recompensado. Por outro lado, se uma pessoa deseja seguir a carreira de enfermagem e se estabilizar em uma rede de hospitais, os riscos são consideravelmente menores e é quase garantido que, eventualmente, o tempo e dinheiro investidos retornarão.
No caso da carreira artística, os riscos envolvem, principalmente, não ser capaz de agradar o público atingido. Esse risco pode ser diminuído com a habilidade do artista, no entanto, ainda depende muito mais de fatores que não podem ser controlados: o entusiasmo e entretenimento do público alvo.
Além disso, o sucesso dessa carreira pode depender do timing: sua obra pode ser publicada em um momento econômico ou político que não favoreça esse tipo de entretenimento, ou até mesmo ao mesmo tempo em que algum outro artista está se sobressaindo, gerando um tipo de concorrência. Outras áreas que dependem intensamente de sorte são, por exemplo, investimentos, lançamento de novos produtos no mercado e startups.
No caso do profissional de enfermagem, os riscos envolvem principalmente habilidades específicas do próprio profissional: para ser bem avaliado em processos seletivos e entrevistas de emprego, o candidato deve ter um bom histórico curricular e os conhecimentos requeridos para ocupar a vaga.
Portanto, em teoria, se o profissional de enfermagem se preparar e desenvolver suas habilidades específicas, a chance de conseguir alcançar o seu objetivo de carreira é muito maior.
Ambos os casos estão sujeitos a alguns riscos que não estão sob nosso controle: crises econômicas, mudanças súbitas no mercado, acasos na vida pessoal, acidentes e desastres, entre outros. No entanto, no caso da carreira artística, os riscos sobre os quais não temos controle são ainda mais variados, e as habilidades específicas, que são imprescindíveis para o profissional de enfermagem, podem não ser suficientes para garantir, por si só, o sucesso do objetivo.
É claro que nada te impede de trilhar o caminho mais arriscado, se esse for o seu sonho – até porque as carreiras que apresentam maior risco são, geralmente, as com melhor retorno financeiro. No entanto, para aumentar as chances de sucesso, é necessário planejar a carreira de modo que os riscos sobre os quais não temos controle sejam minimizados ao máximo, de forma que precisemos principalmente das nossas próprias habilidades (e habilidades que podemos desenvolver) para alcançar a meta de carreira.
Portanto, se você prefere não correr tantos riscos e viver uma vida com poucas preocupações em relação à estabilidade de sua carreira, seja um profissional de enfermagem, e não um artista.
Uma outra forma de pensar nisso é identificar na sua escolha o que de fato te agrada sobre ela. Por exemplo, se, na sua carreira artística, você fosse um pintor, o que te agradaria na realização desse trabalho? Pode ser o simples ato de pintar, a liberdade da criatividade, a possibilidade de trabalhar sozinho, entre outros fatores. Fatores esses que podem, muitas vezes, ser encontrados em outras áreas profissionais menos arriscadas, permitindo que você satisfaça o gosto pelo trabalho sem correr riscos “desnecessários”.
Após identificarmos os riscos, devemos pensar quais deles podem estar sob nosso “controle” e trabalhar para minimizar a interferência desses riscos no processo. Há algumas formas de fazer isso, e uma delas já foi citada anteriormente e consiste em identificar o conhecimento e as habilidades necessárias para chegar onde você deseja, e desenvolvê-las.
Outra maneira é criando um portfólio. Diversificação e experiência são fatores que permitem avaliar e comparar o sucesso entre diversos projetos. Além de compilar a sua experiência – o que conta muito! -, o portfólio também permite que você estude o que deu certo e o que não deu, reunindo informações para decisões futuras.
Acerte no timing! A ordem e o contexto em que suas decisões são tomadas podem fazer total diferença. Leve em conta o contexto econômico atual e a sua própria situação profissional ao tomar decisões importantes. Considere as consequências de cada decisão (como o que você pode ganhar e, principalmente, o que pode perder ao tomar essa decisão) e pondere se ela deve ser feita o quanto antes, se uma oportunidade deve ser criada, se vale a pena esperar, se ela precisa de uma adaptação, ou se a melhor opção é simplesmente não fazer nada – afinal de contas, não fazer nada também é uma decisão!
Evite situações que apresentem riscos inaceitáveis. Situações desse tipo geralmente apresentam riscos muito altos, além de inaceitáveis, o que significa que você dependerá menos das suas habilidades e muito mais da sorte e do acaso para obter sucesso. Ainda que você tenha escolhido seguir um caminho mais incerto e arriscado, evitar esse tipo de situação é essencial, principalmente quando há um alto preço ou um preço que você não pode pagar em jogo.
Foque no que está sob seu controle. Os fatores que você pode controlar serão extremamente úteis para definir o bom andamento do seu plano. Isso envolve comportamentos, conhecimentos, decisões e relacionamentos. Manter boas relações pessoais, principalmente as amizades, se tornará muito útil quando você precisar de uma boa e confiável rede de contatos e auxílio. Portanto, se esforce quando houver a oportunidade de apertar os laços de suas amizades e outras relações.
Identificar o que importa para você rege o caminho que você seguirá, assim como os efeitos da sua jornada. Alguns se importam mais com estabilidade na sua ocupação profissional, e outros querem causar impactos na sociedade. A segunda opção envolve, frequentemente, riscos mais altos.
Partindo para o plano
O seu plano deve ser dividido em alguns períodos de tempo, de forma que os passos necessários para alcançar seu objetivo sejam mais facilmente identificáveis e alcançáveis. O plano para cada um desses períodos deve se alinhar com o objetivo que você deseja alcançar.
O primeiro passo é definir de forma objetiva o seu propósito principal. Defina o que você deseja atingir ao final da sua jornada e faça dele um objetivo concreto, conciso e alcançável.
Então, estabeleça objetivos de longo prazo que são essenciais para concretizar o seu plano. Por exemplo, se você está na faculdade e pretende, no futuro, trabalhar em uma grande empresa e alcançar um cargo de gerência, você precisa estar, dentro dos próximos 5 anos, em uma empresa com cujos valores e cultura você se identifica, para então tomar os próximos passos.
Identifique também os pré-requisitos. Se você deseja morar fora, por exemplo, um pré-requisito muito importante é aprender a falar a língua nativa do país para o qual você pretende se mudar. Esses pré-requisitos são identificados ao longo de todo o plano, então não se preocupe em reunir todos esses fatores de uma vez só.
Agora, você deve estipular um plano e objetivos para períodos de tempo cada vez mais curtos:
Ao seguir todos esses passos, lembre-se constantemente de alinhar as suas tarefas e pequenos projetos ao objetivo principal a ser alcançado. Além disso, não se esqueça de sempre analisar e registrar as lições aprendidas, os métodos que funcionam melhor para você e o que precisa ser melhorado.
Seguir uma rotina mais organizada e ter objetivos concretos em mente gera sensações de percepção, noção e controle do que estamos tentando atingir. Segundo estudos esse tipo de emoção diminui o tempo que levamos para concluir uma tarefa, e se sentir feliz e motivado aumenta a nossa produtividade.
Com foco, esforço e disciplina, é possível fazer de uma rotina algo proveitoso e útil, que te ajudará não só a conquistar seus objetivos mais abrangentes, mas também a cuidar de si mesmo e se sentir mais positivo e disposto.
Investir um pouco do seu tempo em realizar um plano de carreira deixará suas metas muito mais próximas de seu alcance, e o caminho muito mais agradável!